sábado, 3 de dezembro de 2011

DEU NO A TARDE

Pacientes morrem na fila no Hospital Roberto Santos

George Brito

voltar | avançar

Marco Aurélio Martins / AG. A TARDE
Paciente idoso e diabético não resistiu a infecção
Paciente idoso e diabético não resistiu a infecção
Marco Aurélio Martins / AG. A TARDE
Pais correm com o filho de três anos asfixiado
Pais correm com o filho de três anos asfixiado

Depois de enfrentar 250 quilômetros de estrada, o lavrador Manoel Nonato de Souza, 72, chegou à capital na última terça-feira, do município de Mutuípe, sudoeste do Estado, e foi levado ao setor de emergência do Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula. O pé direito da única perna que ainda lhe restava gangrenado, exalava um odor de carne apodrecida, e foi, a princípio, o motivo de ele ter a entrada negada na sala de triagem.

O centro cirúrgico também estava lotado. Diabético e hipertenso, Nonato esperou por duas horas, contorcendo-se de dor em cima da maca, do lado de fora da unidade. Só após contato de A TARDE com a assessoria de comunicação do hospital, o paciente foi acolhido no setor de vascularização, onde foi isolado pelo risco de contaminação, para aguardar a cirurgia de amputação. No dia seguinte, Manoel não resistiu à infecção, que já se alastrara até o joelho, e morreu, por volta das 14h.

O caso sintetiza as dificuldades diárias da emergência do hospital, que, superlotada, enfrenta sobrecarga da capacidade de atendimento acima de 80%. Somente na terça-feira, havia 186 pacientes, quando o limite é de 100.

Os reflexos deste quadro, comum a outros grandes hospitais públicos do país, são doentes nos corredores, equipes trabalhando no limite e a população revoltada.

Idosas - No último dia 25, uma sexta-feira, deram entrada na enfermaria Maria Ones da Silva, 72, e Maria Paz Ferreira, 78. As duas idosas ficaram à espera de atendimento médico especializado.

O estofador Izaldo Ferreira, 48, é filho de Maria Paz, moradora do Alto das Pombas que ficou no corredor do hospital entre sexta e terça-feira. “Minha mãe chegou com uma dor na barriga que não para. Agora, tiraram o soro. Estamos aguardando atendimento de um médico. A gente tem que rezar para não perder a cabeça”, reclamou. No dia seguinte, a paciente foi finalmente atendida.

Maria Ones, vinda de Conceição de Jacuípe (a 97 km da capital), teve sorte pior: faleceu após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), aguardando uma vaga na UTI. “Ela ficou na enfermaria sem medicação. Por volta das 18h (do domingo), passou mal. A enfermeira disse que um médico estava a caminho. Ele só apareceu às 20h30 e disse que não havia vaga porque tinham doentes mais graves”, contou a filha de Maria, Cleide Alves, 40.

Os casos mostram como a superlotação obriga os médicos a definirem prioridades no atendimento. “A angústia diária dos médicos é trabalhar em uma situação de guerra”, disse o presidente do sindicato da categoria, José Caires. Entre os problemas da emergência do hospital, Caires elencou a superlotação ante a escassez de recursos humanos, com equipes mal remuneradas. “O salário-base é de R$ 723,81 e mais gratificação, chegando a uma remuneração de R$ 3 mil. Por isso têm faltado profissionais na área clínica, mesmo para uma demanda normal”, avaliou.

Reajuste - O secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, refutou essa crítica. “Em quatro anos, concedemos 232% de reajuste ao salário dos médicos do Estado. Às enfermeiras, pagamos melhor que o setor privado”. disse o gestor.

Um comentário:

  1. no menandro de farias está acontecendo a mesma coisa, o povo apodrecendo nos corredores sem nenhum atendimento e no jorge novis nao está tão diferente é a realidade de toda saúde pública.

    ResponderExcluir

O Catiripapu agradece a sua participação.