Quando o "New York
Times" publicou, nesta terça (16), que, segundo James Comey, o presidente
americano Donald Trump teria pedido para ele “deixar pra lá” a investigação
sobre o (ex-conselheiro de segurança nacional) Michael Flynn, o barômetro do
impeachment de Trump bateu no vermelho pra muita gente. Apesar de eu achar essa
especulação prematura e a possibilidade pequena, ela não pode ser ignorada...
Preâmbulo:
Trump começou a campanha chamando
mexicanos que entram ilegalmente nos Estados Unidos de criminosos e
estupradores, ou seja, chegou fuzilando a porta do politicamente correto. Ao
contrário das previsões, se tornou candidato do Partido Republicano vencendo outros
16, inclusive, o super-favorito, filho e irmão de presidentes, Jeb Bush. Fez
muitos inimigos no caminho e até inspirou o movimento “nunca-Trump” dentro do
próprio partido. Aí, para a surpresa do planeta e da maior parte dos Estados
Unidos, ele venceu as eleições em novembro do ano passado. Imediatamente, parte
da oposição começou a fazer campanha para que os “electors” do colégio
eleitoral não honrassem os votos nas urnas e não confirmassem a eleição de
Trump. As expectativas de um eventual impeachment de Trump eram grandes (antes
das eleições muitos republicanos prometeram o impeachment de Hillary também,
por sinal, prevendo vitória dela). O país estava e está muito dividido.
Matemática rápida:
Quem pode iniciar o processo de
impeachment é a Câmara, que hoje em dia é dominada pelo partido governista. Os
republicanos têm 55% dos votos (e não é coalizão, é o próprio partido). O
processo só é aceito se o presidente da Câmara, republicano, aceitar. Então,
primeiro uns 30 republicanos, entre eles o líder da maioria, teriam que virar a
casaca contra o presidente da república. Depois – e estamos falando de um
processo complicado – se a resolução de impeachment for aprovada por maioria
simples, ela vai pro Senado. Lá, acontece o julgamento e são necessários 2/3
dos votos. Os republicanos têm 52% dos votos. 19 senadores republicanos – um em
cada três - teriam que se rebelar contra Trump e se juntar a 100% da oposição.
Repito: governistas teriam que se juntar à oposição num país que só tem 2
partidos. O único republicano a falar em impeachment até agora é um deputado do
Michigan, estado em que Trump venceu por um triz. E depois de falar que haveria
a possibilidade de impeachment, o deputado Justin Amash não falou mais nada a
uma repórter da NBC que o perseguiu corredor adentro no congresso, hoje.
O crime:
Obstrução de Justiça. Por
enquanto temos uma só conversa em que – se comprovada - o presidente elogia
Flynn e depois pede para ele deixar o assunto “pra lá”. Falta um bocado de
contexto para comprovar obstrução de justiça.
O que vai decidir:
Como já vimos tanto nos EUA no
caso do Bill Clinton como recentemente no caso de Dilma Rousseff, impeachment é
um julgamento político, o júri é político. Então quem vai definir esse
resultado é a política. Se a base republicana se sentir ameaçada nas urnas,
achar que vai perder de lavada nas eleições legislativas de 2018, a
possibilidade de impeachment cresce. Mesmo assim, é remota. Democratas e
republicanos são opostos em muitos pontos inconciliáveis politicamente. Para um
republicano se juntar a um democrata para retirar um presidente da república do
partido dele, o crime vai ter que ser muito sério. Ainda estamos longe disso.
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