quarta-feira, 17 de maio de 2017

Impeachment de Trump: por que estamos longe disso




Quando o "New York Times" publicou, nesta terça (16), que, segundo James Comey, o presidente americano Donald Trump teria pedido para ele “deixar pra lá” a investigação sobre o (ex-conselheiro de segurança nacional) Michael Flynn, o barômetro do impeachment de Trump bateu no vermelho pra muita gente. Apesar de eu achar essa especulação prematura e a possibilidade pequena, ela não pode ser ignorada...

Preâmbulo:

Trump começou a campanha chamando mexicanos que entram ilegalmente nos Estados Unidos de criminosos e estupradores, ou seja, chegou fuzilando a porta do politicamente correto. Ao contrário das previsões, se tornou candidato do Partido Republicano vencendo outros 16, inclusive, o super-favorito, filho e irmão de presidentes, Jeb Bush. Fez muitos inimigos no caminho e até inspirou o movimento “nunca-Trump” dentro do próprio partido. Aí, para a surpresa do planeta e da maior parte dos Estados Unidos, ele venceu as eleições em novembro do ano passado. Imediatamente, parte da oposição começou a fazer campanha para que os “electors” do colégio eleitoral não honrassem os votos nas urnas e não confirmassem a eleição de Trump. As expectativas de um eventual impeachment de Trump eram grandes (antes das eleições muitos republicanos prometeram o impeachment de Hillary também, por sinal, prevendo vitória dela). O país estava e está muito dividido.

Matemática rápida:

Quem pode iniciar o processo de impeachment é a Câmara, que hoje em dia é dominada pelo partido governista. Os republicanos têm 55% dos votos (e não é coalizão, é o próprio partido). O processo só é aceito se o presidente da Câmara, republicano, aceitar. Então, primeiro uns 30 republicanos, entre eles o líder da maioria, teriam que virar a casaca contra o presidente da república. Depois – e estamos falando de um processo complicado – se a resolução de impeachment for aprovada por maioria simples, ela vai pro Senado. Lá, acontece o julgamento e são necessários 2/3 dos votos. Os republicanos têm 52% dos votos. 19 senadores republicanos – um em cada três - teriam que se rebelar contra Trump e se juntar a 100% da oposição. Repito: governistas teriam que se juntar à oposição num país que só tem 2 partidos. O único republicano a falar em impeachment até agora é um deputado do Michigan, estado em que Trump venceu por um triz. E depois de falar que haveria a possibilidade de impeachment, o deputado Justin Amash não falou mais nada a uma repórter da NBC que o perseguiu corredor adentro no congresso, hoje.

O crime:

Obstrução de Justiça. Por enquanto temos uma só conversa em que – se comprovada - o presidente elogia Flynn e depois pede para ele deixar o assunto “pra lá”. Falta um bocado de contexto para comprovar obstrução de justiça.

O que vai decidir:

Como já vimos tanto nos EUA no caso do Bill Clinton como recentemente no caso de Dilma Rousseff, impeachment é um julgamento político, o júri é político. Então quem vai definir esse resultado é a política. Se a base republicana se sentir ameaçada nas urnas, achar que vai perder de lavada nas eleições legislativas de 2018, a possibilidade de impeachment cresce. Mesmo assim, é remota. Democratas e republicanos são opostos em muitos pontos inconciliáveis politicamente. Para um republicano se juntar a um democrata para retirar um presidente da república do partido dele, o crime vai ter que ser muito sério. Ainda estamos longe disso.

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