A esposa do ator José Mayer
afirmou que, ao contrário das especulações de que o casal teria se separado
depois que ele foi acusado de assédio sexual, eles estão juntos. "Estamos
casados há 45 anos. Estamos mais juntos do que nunca!”, disse Vera Fajardo
segundo informações publicadas pelo
jornalista Leo Dias, do jornal O Dia, neste sábado (08). Vera negou ainda que o
ator tivesse saído de casa.
A revelação do caso de assédio
sexual praticado pelo ator foi feita peça figurinista Su Tonani, da TV Globo. A
acusação causou a suspensão do ator, por tempo indeterminado, das produções da
emissora. A denúncia foi feita no blog #Agoraéquesãoelas, do jornal Folha de
S.Paulo, na última sexta-feira (31), e chegou a ser tirada do ar, por conta da
gravidade das acusações. Logo depois, foi republicado, com a resposta do ator.
Na terça-feira (04) o ator fez
uma carta aberta que foi enviada por meio de sua assessoria de imprensa
para revista Veja. "Eu errei.Errei
no que fiz, no que falei, e no que pensava. A atitude correta é pedir
desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço
agora", afirmou.
Abaixo, confira íntegra do texto
feito pela figurinista, que recebeu o apoio de colegas de emissora - entre
elas, atrizes e apresentadoras que já contracenaram com Mayer.
“José Mayer me assediou”
Por Su Tonani*
"Eu, Susllem Meneguzzi
Tonani, fui assediada por José Mayer Drumond. Tenho 28 anos, sou uma mulher
branca, bonita, alta. Há cinco anos vim morar no Rio de Janeiro, em busca do
meu sonho: ser figurinista.
Qual mulher nunca levou uma
cantada? Qual mulher nunca foi oprimida a rotular a violência do assédio como
“brincadeira”? A primeira “brincadeira” de José Mayer Drumond comigo foi há 8
meses. Ele era protagonista da primeira novela em que eu trabalhava como
figurinista assistente. E essa história de violência se iniciou com o simples:
“como você é bonita”. Trabalhando de segunda a sábado, lidar com José Mayer era
rotineiro. E com ele vinham seus “elogios”. Do “como você se veste bem”, logo
eu estava ouvindo: “como a sua cintura é fina”, “fico olhando a sua bundinha e
imaginando seu peitinho”, “você nunca vai dar para mim?”.
Quantas vezes tivemos e teremos
que nos sentir despidas pelo olhar de um homem, e ainda assim – ou por isso
mesmo – sentir medo de gritar e parecer loucas? Quantas vezes teremos que
ouvir, inclusive de outras mulheres: “ai que exagero! Foi só uma piada”.
Quantas vezes vamos deixar passar, constrangidas e enojadas, essas ações
machistas, elitistas, sexistas e maldosas?
Foram meses envergonhada, sem
graça, de sorrisos encabulados. Disse a ele, com palavras exatas e claras, que
não queria, que ele não podia me tocar, que se ele me encostasse a mão eu iria
ao RH. Foram meses saindo de perto. Uma vez lhe disse: “você é mais velho que o
meu pai. Você tem uma filha da minha idade. Você gostaria que alguém tratasse
assim a sua filha?”
A opressão é aquela que nos
engana e naturaliza o absurdo. Transforma tudo em aceitável, em tolerável, em
normal. A vaidade é aquela que faz o outro crer na falta de limite, no
estrelato, no poder e na impunidade. Quantas vezes teremos que pedir para não
sermos sexualizadas em nosso local de trabalho? Até quando teremos que ir às
ruas, ao departamento de RH ou à ouvidoria pedir respeito?
Em fevereiro de 2017, dentro do
camarim da empresa, na presença de outras duas mulheres, esse ator, branco,
rico, de 67 anos, que fez fama como garanhão, colocou a mão esquerda na minha
genitália. Sim, ele colocou a mão na minha buceta e ainda disse que esse era
seu desejo antigo. Elas? Elas, que poderiam estar no meu lugar, não ficaram
constrangidas. Chegaram até a rir de sua “piada”. Eu? Eu me vi só,
desprotegida, encurralada, ridicularizada, inferiorizada, invisível. Senti
desespero, nojo, arrependimento de estar ali. Não havia cumplicidade, sororidade.
Mas segui na engrenagem, no
mecanismo subserviente.
Nos próximos dias, fui trabalhar
rezando para não encontrá-lo. Tentando driblar sua presença para poder seguir.
O trabalho dos meus sonhos tinha virado um pesadelo. E para me segurar eu
imaginava que, depois da mão na buceta, nada de pior poderia acontecer. Aquilo
já era de longe a coisa mais distante da sanidade que eu tinha vivido.
Até que nos vimos, ele e eu, num
set de filmagem com 30 pessoas. Ele no centro, sob os refletores, no cenário,
câmeras apontadas para si, prestes a dizer seu texto de protagonista. Neste
momento, sem medo, ameaçou me tocar novamente se eu continuasse a não falar com
ele. E eu não silenciei.
“VACA”, ele gritou. Para quem
quisesse ouvir. Não teve medo. E por que teria, mesmo?
Chega. Acusei o santo, o milagre
e a igreja. Procurei quem me colocou ali. Fui ao RH. Liguei para a ouvidoria.
Fui ao departamento que cuida dos atores. Acessei todas as pessoas, todas as
instâncias, contei sobre o assédio moral e sexual que há meses eu vinha
sofrendo. Contei que tudo escalou e eu não conseguia encontrar mais motivos,
forças para estar ali. A empresa reconheceu a gravidade do acontecimento e
prometeu tomar as medidas necessárias. Me pergunto: quais serão as medidas? Que
lei fará justiça e irá reger a punição? Que me protegerá e como?
Sinto no peito uma culpa imensa
por não ter tomado medidas sérias e árduas antes, sinto um arrependimento
violento por ter me calado, me odeio por todas as vezes em que, constrangida,
lidei com o assédio com um sorriso amarelo. E, principalmente, me sinto
oprimida por não ter gritado só porque estava em meu local de trabalho. Dá
medo, sabia? Porque a gente acha que o ator renomado, 30 e tantos papéis,
garanhão da ficção com contrato assinado, vai seguir impassível, porque assim
lhe permitem, produto de ouro, prata da casa. E eu, engrenagem, mulher, paga
por obra, sou quem leva a fama de oportunista. E se acharem que eu dei mole?
Será que vão me contratar outra vez?
Tenho de repetir o mantra: a
culpa não foi minha. A culpa nunca é da vítima. E me sentiria eternamente
culpada se não falasse. Precisamos falar. Precisamos mudar a engrenagem. Não quero mais ser encurralada,
não quero mais me sentir inferior, não quero me sentir mais bicho e muito menos
uma “vaca”. Não quero ser invisível se não estiver atendendo aos desejos de um
homem.
Falo em meu nome e acuso o nome
dele para que fique claro, que não haja dúvidas. Para que não seja mais fofoca.
Que entendam que é abusivo, é antigo, não é brincadeira, é coronelismo, é
machismo, é errado. É crime. Entendam que não irei me calar e me afastar por
medo. Digo isso a ele e a todos e todas que, como ele, homem ou mulher, pensem
diferente. Que entendam que não passarão. E o que o meu assédio não vai ser
embrulho de peixe. Vai é embrulhar o estômago de todos vocês por muito, muito
tempo."
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