domingo, 18 de março de 2012

O CATIRIPAPU, AJUDANDO VOCÊ A PENSAR. A RAZÃO NA OBRA DO FILÓSOFO RENÉ DESCARTES.

Considerado por muitos o fundador da filosofia moderna, o francês René Descartes foi um dos mais charmosos heróis e um dos mais atacados vilões na história do pensamento. Matemático brilhante e cientista inspirado, ele estudou a trajetória dos astros, dissecou cadáveres, embrenhou-se em selvas algébricas, especulou sobre a natureza divina e tentou solucionar as misteriosas imbricações do corpo e da alma - aplicando a tudo a mesma fé racional e metódica.

Em vez de empurrar conclusões prontas, o autor dos clássicos Discurso do Método e Meditações Metafísicas preferiu narrar, passo a passo, os caminhos de suas reflexões. Espécie de romancista do pensamento abstrato, René Descartes quis dirigir-se de forma franca e compreensível a todos os seres dotados de razão e bom senso. Foi, acima de tudo, o filósofo da clareza.

Cheio de opiniões

Descartes nasceu na região francesa de La Touraine em 1596, no seio de uma família abastada. René teve uma infância solitária e hipocondríaca. Aos 8 anos, foi estudar como interno no célebre colégio jesuíta de La Flèche. Descartes aproveitava as manhãs para devorar livros atrás de livros, e as tardes eram dedicadas ao esporte típico de um cavalheiro: a esgrima. O gosto pela solidão, a indolência matinal e a dupla habilidade com palavras e com floretes foram traços que o acompanhariam pelo resto da vida.

Como sempre, atormentava-o a velha questão: qual seria o método correto para decifrar o universo? No dia 10 de novembro, a resposta subitamente surgiu, na forma de uma metáfora arquitetônica. Descartes imaginou, primeiramente, uma cidade construída ao sabor das gerações humanas, com prédios acumulando-se ao léu. Em seguida, pensou em uma cidade perfeitamente planejada por um único arquiteto, com ruas alinhadas em traçado impecável. Por fim, concluiu: "Não há tanta perfeição nas obras compostas pela mão de diversos mestres, como naquelas em que um só trabalhou. Assim, os edifícios construídos por um só arquiteto são mais belos que aqueles que muitos tentaram reformar... E parece-me que as ideias que avolumaram pouco a pouco, compostas pelas opiniões de muitas pessoas, não se acham tão próximas da verdade quanto o simples raciocínio de um homem de bom senso".

Autonomia mental

O que Descartes descobriu foi o valor absoluto da autonomia intelectual. Para pensar corretamente, é preciso antes abolir todos os privilégios e toda a autoridade dos mestres; é preciso colocar em cheque todos os pressupostos, todas as filiações, todos os medos, e valer-se apenas daquilo que é comum à humanidade inteira: a razão.

O dom de distinguir o falso do verdadeiro existe em todos os homens, argumenta Descartes - o problema é que a maioria deles contenta-se com verdades parciais ou incompletas, que foram herdadas. Racionalista fervoroso, sedento de verdades absolutas, ele duelou a vida inteira contra a incerteza - mas acabou concluindo que só se derrota esse adversário com as armas que ele próprio nos fornece. Duvidar metodicamente de tudo, até que a mente depare com algum princípio inquestionável - essa é a essência da "dúvida cartesiana", cerne do método racional, que o filósofo-matemático tratou de aplicar a todas as equações do universo.

O primeiro alvo da dúvida cartesiana são nossas certezas mais imediatas - aquelas fornecidas pelos sentidos. Da dúvida extrema, Descartes faz emergir sua primeira certeza, cunhada na frase mais famosa da filosofia: "Penso, logo existo". O pensamento, e não a matéria, é a evidência de que existimos - sobre essa verdade dura como pedra, arduamente resgatada no naufrágio das falsas certezas, Descartes ergue o monumento de sua filosofia.

Descartes exilou-se na Holanda, onde viveu totalmente sozinho, pensando, fazendo experimentos dos mais variados e relatando por escrito suas aventuras mentais. Por mais que buscasse a solidão, seus livros correram a Europa atraindo tanto discípulos quanto detratores.

Mais que um método, mais que uma doutrina, ele nos deixou um símbolo. Seu intelecto ao mesmo tempo sereno e atribulado, oscilante entre o sonho e a realidade, sempre em busca de um inatingível graal filosófico, serviria nos séculos seguintes como um farol hipnótico para as mentes inquietas - e como eterno convite ou eterno desafio à coragem de pensar.

2 comentários:

  1. PARABENS MEU CARO GREGÓRIO DE MATOS LAUROFREITENSE! BRILHANTRE A SUA EXPOSIÇÃO DESSE PERSONAGEM DA FILOSOFIA.
    ACREDITO QUE VOCÊ ESTEJE MANDANDO RECADO PARA AQUELES QUE NÃO ADMITEM SUA FORMA DE PENSAR E SE EXPRESSAR DIFERENTE.
    MAS TEM TAMBÉM JEAN JAQUES RUSSEAU QUE FOI MAIS DIRETO AO ASSUNTO COM A SEGUINTE FRASE: "POSSO NÃO CONCORDAR COM O QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO, MAS MORREREI DEFENDENDO O SEU DIREITO DE FALAR"
    DUZINHO, BOA SORTE!!!!

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  2. PARABÉNS MEU CARO GREGÓRIO DE MATOS LAUROFREITENSE, SE SUA INTENSÃO É MANDA RECADO ÀQUELES QUE TE CRÍTICÃO PELA SUA POSTURA OPOSICIONISTA, O USO DESSE AUTOR PODE NÃO FUNCIONAR.
    MAS TEM JEAN JAQUES RUSSEAU QUE FOI MAIS DIRETO AO ASSUNTO COM A SEGUINTE FRASE:"POSSO NÃO CONCORDA COM O QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO, MAS MORREREI DEFENDENDO O SEU DIREITO DE FALAR"

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