domingo, 10 de agosto de 2014

FILHOS DIZEM COMO É TER UM PAI GAY

Marina conta que ela que tomou a atitude de conversar com o pai sobre a homossexualidade dele
 
Há dez anos, a designer Mariana Ribeiro, 27, chamou o pai, o empresário Marco Antônio dos Santos, 56, para ter uma conversa. No papo, sem muita cerimônia, ela o convidou a sair do armário e se assumir gay. “Não precisa sentir vergonha, nós somos uma família, para que esconder?”, recorda Mariana, sobre o que disse na ocasião para Marco, que aceitou o convite da filha.

Mãe solteira, orgulhosa da sua família que foge do perfil tradicional, Mariana já sabia que o pai era gay há alguns anos, até pelo fato dele morar com outro homem. A designer conta que sempre foi muita apegada a Mauro e queria mostrar que estava ao lado dele.

“Eu me identifico muito com meu pai, sou a mais parecida com ele. Não só fisicamente, mas também emocionalmente. Mesmo vivendo longe um do outro, a ligação é muito forte”, conta Mariana, que mora em Cotia (SP), há 20 km de Marco, que vive na capital São Paulo.

Marco, que teve mais duas filhas com a ex-esposa, além de Mariana, demostra orgulho da cabeça aberta da filha. “Nós sempre criamos nossas filhas para o mundo”, observa. “Uma das melhores coisas de ser pai é nos ver refletido em nossos filhos, lembro até hoje quando a minha outra filha, com uns oito anos, me falou que eu ria pouco, desde então tento rir mais”, prossegue ele, casado há nove anos com o também empresário José Antônio, 56.

Aliás, José cobra do marido quando ele deixa de ligar para as filhas. Fã dos almoços de domingo em família, o padrasto gosta de receber a enteada Mariana e filho dela Caíque, 2, no apartamento em que mora com Marco.

“O que interessa não é o formato da família, mas as pessoas que a compõem. Eu não mudaria absolutamente nada na minha vida”, constata Mauro, sem conseguir conter a emoção. “Nós nos escolhemos, poderíamos ter nos negado não é mesmo?”, concorda José. “Se não fosse assim, não seria minha família”, arremata Mariana.

Renasci quando sai do armário

Diferentemente de Mariana, o estudante Bryan Asfora Coutinho, 21, ficou sabendo que o pai era gay quando ainda era criança, aos 8 anos. O fotógrafo Mau Carlos Correa Coutinho, 47, decidiu se assumir durante uma viagem com filho Bryan e um antigo namorado.

Com o apoio da ex-sogra e da mãe de Bryan, Mau fez a revelação e se surpreendeu com reação do filho. “Eu contei, ele começou a chorar, então entrei em pânico. Mas logo depois, ele me disse que estava preocupado porque iam me zoar”, conta o fotógrafo, emocionado.

Mau diz que a emoção de sair do armário para o filho só é comparável a que ele sentiu quando Bryan veio ao mundo. “Guardo com muito carinho dois momentos: O primeiro é o nascimento do Bryan. Depois, o meu renascimento, ao me assumir gay para ele”, revela o fotógrafo.

Depois de viver desde criança com a mãe, Bryan se mudou para casa do pai, que fica mais perto da faculdade de cinema que ele cursa, na Zona Sul do Rio de Janeiro. “Temos conflitos de quem vive junto, mas tenho muito carinho pelo meu pai. É uma relação como de qualquer outro pai e filho”, relata o estudante.

Quando ouve alguma provocação sobre a sexualidade do pai, Bryan se acanha em responder. “Se alguém faz manda uma indireta, eu respondo com uma direta. A pessoa percebe logo que está sendo desagradável”, explica.

Marido de Mau, o designer Matheus Madeira Queiroz, 28, fala com admiração da relação de cumplicidade do parceiro com o filho. “Eles falam que tem uma relação como qualquer pai e filho, mas não é verdade. É difícil ver uma relação com tanto amor e carinho como a deles”, exalta Matheus.

Tenho dois pais gays

A estilista Dalila Pedreira Viana, 25, se orgulha ter uma dupla paternidade gay. O pai biológico, o engenheiro Rafael Santa Viana, 55, tem o mesmo status familiar que o padrasto dela, Marcelo Lyra,51. “Eles resolvem tudo juntos. Me dou muito bem com Marcelo, eu gosto do que ele fala, do que ele pensa, o admiro”, elogia Dalila.

Aos 12 anos, sem saber que ele era o marido do pai, Dalila, que foi batizada na pré-adolescência, escolheu Marcelo para ser o seu padrinho. Um ano depois, ela descobriria que os dois formavam um casal, quando Rafael se assumiu.

“Chorei muito, nem sei por que. Depois, me dei contai que era por isso que eles dormiam no mesmo quarto desde sempre”, se diverte a estilista, lembrando-se da situação.

Hoje, Dalila vive em São Paulo, enquanto Rafael e Marcelo administram uma pousada no litoral baiano. “Falo com meu pai toda a semana, muito mais do que falo com qualquer outra pessoa que ficou na Bahia. Ele sabe tudo que acontece na minha vida, do trabalho aos namorados”, pontua a estilista, que só reclama de um impedimento causado pela distância. “Sinto muito falta de tomar uma cervejinha com eles”.

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