sexta-feira, 4 de julho de 2014

Desfile do 2 de Julho mostra tensão política com troca de socos e pontapés entre comitivas

Quatro dias antes do início oficial da disputa pelo Palácio de Ondina, o Dois de Julho expôs as tensões pré-eleitorais entre oposição e base aliada e antecipou o clima de batalha previsto para durar até outubro. De um lado da trincheira,  o grupo liderado pelo democrata Paulo Souto colou no prefeito ACM Neto e capitalizou mais aplausos do que vaias para os candidatos do partido.
 
Do outro, a caravana do PT saiu dividida, com a banda do governador Jaques Wagner separada da de Rui Costa. Por volta das 9h, a temperatura política ainda não havia subido, quando ACM Neto e Wagner hastearam as bandeiras na Lapinha, junto aos presidentes da Câmara de Vereadores e da Assembleia, Paulo Câmara (PSDB) e Marcelo Nilo (PDT), respectivamente.
 
 
 
Mas os termômetros subiram logo após o fim da cerimônia que dá a largada aos cortejos na Festa da Independência, quando os militantes das duas alas se confrontaram. Nos primeiros minutos do desfile, grupos de integrantes da comitiva do DEM e do PT, que também recebeu o apoio de membros da Central Única de Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Sem Terra (MST) trocaram socos, pontapés e empurrões.
 
A confusão começou quando a comitiva do governador, a segunda a sair, partiu sob vaias de populares e militantes políticos posicionados nos arredores do Largo da Lapinha.
Em seguida, veio a do DEM, que foi hostilizada por dezenas de pessoas vestidas com camisas do PT, CUT e MST. Em meio a ofensas, palavrões e agressões físicas, um lado culpou o outro pela confusão e a Polícia Militar (PM) precisou intervir para reduzir a tensão. Mas ela continuou no tom das declarações dos políticos e candidatos.
 
“É natural. Os grupos organizados, eu diria que a mando do governo, fazem isso. Paciência. Faz parte da democracia”, disse Paulo Souto. Candidato ao Senado, Geddel Vieira Lima (PMDB) também acusou os petistas. “Eu não vi (vaias). Eu vi uma manifestação organizada pelo pessoal do PT, querendo tumultuar o desfile”, declarou.
 

 
Mais vaiado do que aplaudido ao longo do desfile e confrontado por populares também com faixas e cartazes, Wagner minimizou o episódio: “É ano eleitoral, cada um quer mostrar a cara, cada um vem com a sua torcida, um aplaude, o outro vaia. Pra mim, é o jogo da política. Eu achei desnecessário aquele momento de tensão, mas o que interessa é que tá tudo bem”.
 
No mesmo tom que Wagner, Rui Costa disse que qualquer pessoa pública tem que ter preparo para receber manifestações contrárias. “Ou então, é melhor nem ser artista, político, atleta, jogador de futebol. Isso (a vaia) é parte da democracia”, avaliou.
 
Táticas
 
Na busca por apoio popular às vésperas da largada na corrida eleitoral, Paulo Souto, seu vice, Joaci Góes (PSDB), e Geddel fizeram o dever de casa. Sorriram para os eleitores, posaram para fotos, acenaram para os que assistiam ao desfile das janelas das casas. 
 
No trajeto, o trio navegou na popularidade mantida pelo prefeito de Salvador após vencer as eleições municipais de 2012. No desfile da oposição, o prefeito democrata concentrou as atenções ao longo do cortejo. Era beijado por idosas, chamado para selfies com jovens, dava autógrafos a crianças, era aplaudido por apoiadores e também vaiado por adversários. Para o candidato do governo, não havia problema nenhum em ficar no segundo plano.
 

 
“Isso é um fator altamente favorável. É uma demonstração de que o baiano, ao votar na eleição municipal, votou certo, está se dando bem na administração e vai querer repetir isso no governo do estado”,  afirmou. “O prefeito é, sem dúvida alguma, a figura mais popular. Mas isso é ótimo. Diz-me com quem andas, e eu te direi quem és”, resumiu o tucano Joaci Góes.
 
Indagado sobre aplausos e vaias, estas em  número bem menor, disse Neto: “A festa é espaço da democracia, manifestação dos vários segmentos, dos que querem reivindicar, dos que querem agradecer. Tudo isso faz parte do 2 de Julho”, afirmou ACM Neto.
 
No primeiro Dois de Julho como candidato ao governo, o petista Rui Costa caminhou sem o padrinho político. Estratégia que os coordenadores de campanha adotaram também na Lavagem do Bonfim. Sem o tradicional vermelho do partido ou o branco das autoridades, Rui foi vestido com uma camisa da Seleção Brasileira e chegou sozinho ao Pavilhão Dois de Julho, local da cerimônia na Lapinha.
 
À frente da comitiva do governador e separado por um grupo de militantes do PT, Rui rumou com os próprios passos ao lado  dos companheiros de corrida: o vice-governador Otto Alencar (PSD), candidato ao Senado, o vice em sua chapa, João Leão (PP), e deputados da base. Na saída, repetiu o que todo político, governista ou não, diz sobre a festa.
 
“Nós não estamos pedindo voto aqui, estamos participando dessa atividade simbólica, política, porque o Dois de Julho é político, mas não é eleitoral”, disse. Em seguida, ao falar dos tempos de criança e adolescente, quando vivia entre a Liberdade e a Lapinha, cometeu o ato falho também comum a candidatos na festa: “Hoje, vou ter a oportunidade de conversar com o povo da Bahia e pedir a ele a confiança para governar o estado”.
 
Em seguida, enquanto tirava fotografias e cumprimentava eleitores, Rui comentou que as pesquisas ainda apontam como alta sua taxa de desconhecimento. Mas disse que aposta na exposição maior da TV e nos jornais durante a campanha para se tornar mais conhecido dos baianos.
 
Outra via
 
Longe das tensões entre as alas lideradas pelo DEM e pelo PT, a senadora Lídice da Mata  desfilou com seu cortejo em tranquilidade. Candidata a governadora pelo PSB e eleita em 2010 com mais de 3,3 milhões de votos, Lídice caminhou sob cumprimentos do povo, que acenava para ela com “L” na mão .
 
Pela primeira vez distante da comitiva dos antigos aliados, Lídice aproveitou para criticar novamente Rui pelas declarações de que sua candidatura iria “desidratar”: “Não basta ter máquina pública para vencer as eleições. Tem que ter relação com as causas do povo”, disse ao lado da ex-ministra Eliana Calmon, candidata ao Senado, e do presidenciável Eduardo Campos. 
 
Este não parava de agradecer a ajuda de Lídice para torná-lo mais conhecido na Bahia. Em clima de festa, disse: “É muito bom que perto da largada eu venha aqui. Nossa campanha tem tudo a ver com independência, com o sonho de um Brasil mais justo, sem racismo, homofobia, sem preconceito com o nordestino”.

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