terça-feira, 10 de janeiro de 2012

RITO DE PASSAGEM PRODUZ BENEDITA Á FLOR DA PELE


Por Rogério Borges

Bruno de Sousa mostrou ontem em Santo Amaro de Ipitanga a sua Benedita, trabalho solo desenvolvido a partir de experiência acadêmica, na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia e com a orientação de Fábio Vidal e Danilo Pinho. À sofisticação que essa origem garante, o espetáculo soma uma emoção à flor da pele que é própria de quem acabou de por o pé na estrada.

Aos 25 anos, Bruno faz questão de se referir à peça no contexto da formatura recente, do desafio que é estar pronto para o mundo – como se fosse mesmo assim – e dos sonhos que se apresentam por construir. Benedita é como que um rito de passagem.

A velha lavadeira nasceu para ser personagem pelo exercício da construção e não de um qualquer insight criativo. Nasceu, além disso, do talento de Bruno para a modulação da voz. Construída a partir do improviso, incorpora referências diversas, costuradas ao longo de dois anos com método e transpiração.

O ator Bruno Sousa, no Bate-Papo após a apresentação do espetáculo BENEDITA no Festival Nacional Ipitanga de Teatro.

O destaque mais óbvio é Estamira, personagem-título do muito premiado documentário de Marcos Prado. Morta em julho do ano passado, Estamira foi catadora de lixo no aterro sanitário de Gramacho, na Baixada Fluminense. A testagem de limites entre a insanidade irrecuperável e a extrema lucidez, espinha dorsal do documentário, é também o que formata a Benedita de Bruno.

Mas ao contrário de Estamira, que vivia mergulhada em permanente caos-lúcido, Benedita parte do improvável rumo ao razoável. A rota, sem tirar força ao personagem, permite que o público se aproprie dele e com ele se identifique. A velha de tons medievais que primeiro surge no palco depois cede espaço a uma lavadeira – que então se revela progressivamente mais complexa.

A cenografia de Rodrigo Frota e o figurino de Diana Moreira são um espetáculo à parte – e contam parte da história. A trouxa disforme que inicialmente compõe a cena vai depois revelar complexidade própria e acompanhar o desenrolar do personagem. Ao final do espetáculo, todo um cenário com múltiplas referências em diversos setores terá saído do hermético pacote. A luz é de Pedro Dultra e a trilha sonora de Leandro Villa.

A apresentação de ontem no Festival Nacional Ipitanga de Teatro (FIT) faz parte do início de percurso do espetáculo, que estreou em novembro último no Teatro Gamboa Nova, em temporada que teve sempre casa lotada.
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